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CATATAU, IMAGEM E TRÂNSITO

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  Saulo de Araújo Lemos   Resumo Em Catatau, Paulo Leminski desenha uma hipotética estadia de René Descartes no Brasil durante o domínio de Maurício de Nassau. Publicado em 1975, o romance apresenta um fluxo textual contínuo, imprevisível e heterogêneo. Descartes, nessa obra, percorre a linguagem rumo ao mundo e rumo a si mesma: poesia. Este trabalho conversa sobre dois destinos possíveis e inalcançados da viagem de Leminski: o Brasil-colônia da era dos descobrimentos, o Brasil contemporâneo ao autor. Tratando de trajetos que só se afirmam como possibilidade, este percurso crítico traz os conceitos de imagem, solidão da obra e fala errante, propostos por Maurice Blanchot em O espaço literário, e defende que os brasis produzidos a partir da tessitura literária do Catatau sejam imagens distanciadas umas das outras, bem como dos tempos e espaços que, segundo o senso comum, as teriam gerado; são uma espécie geminada de signos opacos que se dirigem à queles dois brasis e deles também se

O VOTO FACULTATIVO E O FINANCIAMENTO PÚBLICO DE CAMPANHA ELEITORAL NO BRASIL: CORRUPÇÃO, CIDADANIA E DEMOCRACIA EM DEBATE

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  José Valente Neto Alguns dos acontecimentos históricos mais significativos experimentados pelo mundo ocidental num passado recente dizem respeito aos processos de transição de regimes autoritários para regimes pluripartidários e representativos, verificados principalmente a partir do final da década de 70 e início dos anos 80, em países como Argentina, Espanha e Brasil. Neste último caso, o regime militar aqui instaurado foi responsável por uma verdadeira mutação institucional e por um retrocesso democrático cujos malévolos resultados ainda estamos, em toda a sua inteireza, por reparar. De fato, se observarmos as condicionantes culturais que permeiam o nosso país, treze anos de democracia política são absolutamente insuficientes para desbotar as manchas herdadas do patrimonialismo colonial, do liberal-conservadorismo imperial e do coronelismo e clientelismo republicanos. Não há que se negar, todavia, avanços vividos pelo complexo institucional brasileiro, mormente com a criação da Ju

EDUCAÇÃO PATRIMONIAL EM CONTEXTOS: CARTOGRAFIAS E COSMOPERCEPÇÕES

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Adson Rodrigo S. Pinheiro  Átila B. Tolentino Carmem Zeli de Vargas Gil O escritor quilombola Antônio Bispo (2018, p.4), como tradutor do pensamento do seu povo, diz que os espaços circulares permitem conviver bem com a diversidade, entendendo que “o outro é importante, que a outra é importante. [Assim] a gente sempre compreende a necessidade de existirem as outras pessoas”. Sua reflexão é no intuito de nos mostrar que nosso olhar colonizante e colonizado é linear, portanto limitado a uma única direção. Os espaços circulares, por sua vez, permitem dimensionar melhor as coisas e os movimentos. A isso decorre aceitar o desafio de entender os diferentes modos de viver que existem e, portanto, torna-se necessário o debate das e entre as variadas cosmopercepções. No pensamento da nigeriana Oyèrónkẹ Oyěwùmí (2002), a cosmopercepção é uma forma mais inclusiva de conceber o mundo, fissurando a supremacia da visão que nos induz, por exemplo, a olhar o patrimônio a partir dos critérios de arte,

UM ENCONTRO COM A COSMOPERCEPÇÃO JENIPAPO-KANINDÉ - ENTREVISTA COM A CACIKA IRÊ

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  Adson Rodrigo Silva Pinheiro  Cacika Irê do povo Jenipapo-Kanindé, Juliana Alves6 é uma liderança nas lutas pelo território e pelo direito de existir na diversidade. É parte de um Cacicado de três  mulheres da mesma família: Cacika Pequena7 , sua mãe; a Cacika Jurema, sua irmã mais velha; e ela Irê. Sucessora de Cacika Pequena, assumindo o Cacicado desde 2010.  Atua na organização das mulheres indígenas que vêm, cada vez mais, conquistando espaço na política e à frente de suas aldeias. Em 2014, foi eleita diretora da Escola Indígena Jenipapo-Kanindé, vinculada à Secretaria da Educação do Ceará. Entre suas alunas, está sua mãe, a Cacika Pequena, que frequenta a Educação de Jovens e Adultos (EJA).  Da sua trajetória acadêmica, a entrevistada possui graduação em Licenciatura Intercultural Indígena pela Universidade Federal do Ceará (2016). Além disso, é especialista em Gestão Escolar e Coordenação Pedagógica pela Faculdade Kurios (2016). Atualmente, é Mestranda em Antropologia pela Univ

A PIEDADE E A FORÇA: O TRABALHO FORÇADO EM OBRAS DE SOCORROS PÚBLICOS NAS SECAS DA PASSAGEM DO SÉCULO XIX

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  Tyrone Apollo Pontes Cândido Resumo Neste artigo procuro enfrentar o problema de caracterizar como  forçado  o trabalho executado pelos retirantes das secas no território semiárido brasileiro (em particular no Ceará) durante a passagem do século XIX e, com base nessa experiência, refletir sobre a pertinência de se considerar a presença de relações não livres de trabalho no contexto da chamada “transição para o trabalho livre”, ainda quando os sujeitos sociais em pauta não tenham sido trabalhadores escravos. https://periodicos.ufsc.br/index.php/mundosdotrabalho/article/view/1984-9222.2016v8n15p149

ANÁLISE RETÓRICA DO GÊNERO TRATADO DE FRONTEIRA BRASIL E PAÍSES SUL-AMERICANOS

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  ELIABE DOS SANTOS PROCÓPIO RESUMO  Esta pesquisa filia-se aos Estudos Retóricos do Gênero (MILLER, 1984; SWALES, 1990; BHATIA, 1993; BAZERMAN, 2005) e à Retórica da Situação (BURKE, 1950; 1951; BITZER, 1968), com o objetivo de analisar o Tratado de Fronteira como um gênero que responde às demandas sociais da situação retórica do estabelecimento de fronteira entre o Brasil e os países sul-americanos. A metodologia geral desta pesquisa compõe-se de 4 partes, cada uma delas relacionada a um objetivo específico, que são: (i) seleção do corpus – para selecionar um fragmento histórico-social e nele descrever o processo da tipificação da retórica de fronteiras; (ii) identificação do propósito comunicativo – para definir o Tratado de Fronteira, que é um gênero elaborado por um grupo de pessoas motivadas por uma demanda social; (iii) elaboração dos sistemas de gêneros tratadísticos – para reconstruir a situação retórica do estabelecimento de fronteiras e traçar o percurso da criação e validaç

A HISTORICIDADE NO ENSINO DE GÊNEROS DE TEXTO: UM PROJETO DE INTERNACIONALIZAÇÃO DA PESQUISA EM LÍNGUA PORTUGUESA

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  Aurea Zavam Resumo A heterogeneidade dos usos da língua e do funcionamento dos textos, com propósitos comunicativos diversos, seja na modalidade oral ou escrita, é constatada nos distintos contextos sócio-historicamente situados, como, por exemplo, nos diferentes territórios e espaços da lusofonia, foco deste estudo. Hoje, as políticas educativas consideram centrais as noções de gênero de discurso ou gênero de texto para abordar o ensino da língua portuguesa. Entretanto, pouco se discute acerca da didatização da dimensão sócio-histórica da língua e do texto, considerando as suas modificações e variações ao longo do tempo. Uma pesquisa internacional abordando o ensino da língua portuguesa como língua primeira no Brasil e em Portugal ou como língua de herança ou língua adicional em outros países levanta as seguintes questões: Que interesse tem o ensino da historicidade do uso da língua e dos gêneros de texto? Quais dimensões ensináveis merecem ser associadas à historicidade? Para dis

DE RE DIPLOMATICA: FAZER NOTARIAL NA BAHIA COLÔNIA NO LIVRO II DO TOMBO DO MOSTEIRO DE SÃO BENTO DA BAHIA

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 JAQUELINE CARVALHO MARTINS DE OLIVEIRA RESUMO  Tese apresentada em um volume, constituída de 6 seções. Começa-se por situar a pesquisa na temática Língua e Cultura, bem como apresentar o objeto de estudo, registros que tratam do fazer notarial na Bahia Colônia, tendo como documento-monumento o Regimento de Tomé de Sousa, de 1548, trasladados em um volume da coleção dos Livros de Tombo do Mosteiro de São Bento da Bahia: o Livro II do Tombo. A segunda seção apresenta um histórico da Diplomática, seu reconhecimento enquanto ciência, o Mosteiro de São Bento da Bahia enquanto lugar privilegiado de estudos e a relevância do volume em análise. Passa-se, na seção seguinte, a um panorama das tendências diplomatísticas em Portugal, procurando, sobretudo, entender o texto notarial em solo europeu, ainda sob resquícios medievais, entre os séculos XIV e XVI. Na quarta seção, procede-se à análise de aspectos extrínsecos e intrínsecos do Regimento e inserção deste no cenário dos atos diplomáticos, t

ANÁLISE SOCIORRETÓRICA DO GÊNERO PORTARIA DO SÉCULO XVIII

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  YGOR BRAGA DE ALMEIDA  RESUMO  A presente pesquisa objetivou a análise e construção de uma organização sociorretórica do gênero portaria do século XVIII. Para isso, esse trabalho revestiuse, primeiramente, da junção entre duas áreas tidas muitas vezes como antagônicas: a Filologia, cujo objetivo maior concentra-se no resgate de textos pertencentes ao passado histórico e suas ligações com o resgate da língua, aliandoa com a história, a sociedade e a cultura de uma época, conforme os conceitos de Basseto (2005); e a Linguística Moderna, em especial os estudos acerca da natureza e construção dos gêneros textuais, destacando-se a perspectiva sociorretórica de caráter etnográfico, baseada nos estudos de Swales (1990, 1992, 1998, 2003) e Bhatia (1993). Para essa junção, em primeiro lugar, adotou-se o percurso metodológico sugerido por Ximenes (2009), que consiste no resgate de textos por meio de edição semidiplomática e estudo de algum fenômeno linguístico ou extralinguístico presente naqu

IMAGENS, QUESTÕES E O POEMA DE CARLITO AZEVEDO

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  Saulo de Araújo Lemos Resumo:             Esta pesquisa se dedica à obra poética do carioca Carlito Azevedo (1961), composta por cinco livros: Collapsus linguae (1991), As banhistas (1993), Sob a noite física (1996), Versos de circunstância (2001) e Monodrama (2009), além da antologia Sublunar (1991-2001). Essa produção participa da poesia de invenção recente, de intensidade experimental, no Brasil, por conta de sua pesquisa de linguagem, pela heterogeneidade de usos discursivos e por se alimentar de vários recursos artísticos empregados desde Baudelaire e Mallarmé (complicação da linearidade textual, verso livre, uso visual da página etc.); assim, tal poesia se coloca como um gesto de assimilação e interferência sobre várias linhas poéticas da modernidade, de modo que tem produzido uma voz particular. Evitando uma adesão automática a etiquetas como “pós-modernidade” ou mesmo “literatura contemporânea”, propõe-se aqui rastrear e aprofundar questões pertinentes à poesia de Carlito,