ANÁLISE RETÓRICA DO GÊNERO TRATADO DE FRONTEIRA BRASIL E PAÍSES SUL-AMERICANOS
ELIABE DOS SANTOS PROCÓPIO
RESUMO
Esta pesquisa filia-se aos Estudos Retóricos do Gênero (MILLER, 1984; SWALES, 1990;
BHATIA, 1993; BAZERMAN, 2005) e à Retórica da Situação (BURKE, 1950; 1951;
BITZER, 1968), com o objetivo de analisar o Tratado de Fronteira como um gênero que
responde às demandas sociais da situação retórica do estabelecimento de fronteira entre o
Brasil e os países sul-americanos. A metodologia geral desta pesquisa compõe-se de 4 partes,
cada uma delas relacionada a um objetivo específico, que são: (i) seleção do corpus – para
selecionar um fragmento histórico-social e nele descrever o processo da tipificação da retórica
de fronteiras; (ii) identificação do propósito comunicativo – para definir o Tratado de
Fronteira, que é um gênero elaborado por um grupo de pessoas motivadas por uma demanda
social; (iii) elaboração dos sistemas de gêneros tratadísticos – para reconstruir a situação
retórica do estabelecimento de fronteiras e traçar o percurso da criação e validação social
(legal e administrativa) do gênero Tratado de Fronteiras; e (iv) descrição da composição
linguístico-textual – para caracterizar o Tratado de Fronteira como gênero textual com base
em suas principais marcas linguísticas regularizadas e compartilhadas entre os Tratados. O
corpus desta pesquisa está composto de 18 Tratados de Fronteira, que foram celebrados pelo
Brasil e os países sul-americanos, entre os anos de 1851 a 1981. Os resultados alcançados por
esta pesquisa mostram que: (1) o gênero Tratado de Fronteira é o acordo escrito e formal entre
dois sujeitos internacionais, formado por uma constelação de enunciados performativos, que
realizam a ação social de estabelecer delimitações territoriais; (2) a celebração de cada um dos
Tratados forma um conjunto de gêneros, que se organizam em 6 grupos configurando um
sistema de gêneros; (3) cada sistema de gêneros reflete uma situação retórica cuja demanda é
a delimitação, cada um dos grupos de gêneros reflete um evento dessa situação (negociação,
adoção do texto, assinatura etc.), reunindo os gêneros que viabilizam a criação e a validação
do Tratado nas esferas institucionais; (4) a composição textual dos Tratados é formada por 5
unidades retóricas, que são o título, o preâmbulo, a articulação substancial e a articulação
final; (5) essa composição textual é retórica, porque resulta de um trabalho coletivo, realizado
reiteradamente nas esferas de uso do gênero Tratado e estabilizado por seus usuários; (6) cada
uma dessas unidades retóricas está composta de subunidades, exceto a intitulação, e apresenta
um estilo linguístico específico. A articulação substancial, por exemplo, que é a parte
compromissiva do Tratado, se caracteriza por uma organização textual hierárquica entre
aquilo que vem na cabeça no artigo e nos desdobramentos articulares, estabelecendo uma
escala de força retórica. A função textual injuntiva sobressai por configurar todo o conteúdo
semântico dos enunciados da articulação substancial e, principalmente, por ser uma
propriedade inerente ao gênero Tratado de Fronteira.
https://repositorio.unesp.br/bitstreams/986e614c-ec8c-4c79-a857-c8eed1a7802d/download
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