EDUCAÇÃO PATRIMONIAL EM CONTEXTOS: CARTOGRAFIAS E COSMOPERCEPÇÕES


Adson Rodrigo S. Pinheiro
 Átila B. Tolentino
Carmem Zeli de Vargas Gil






O escritor quilombola Antônio Bispo (2018, p.4), como tradutor do pensamento do seu povo, diz que os espaços circulares permitem conviver bem com a diversidade, entendendo que “o outro é importante, que a outra é importante. [Assim] a gente sempre compreende a necessidade de existirem as outras pessoas”. Sua reflexão é no intuito de nos mostrar que nosso olhar colonizante e colonizado é linear, portanto limitado a uma única direção. Os espaços circulares, por sua vez, permitem dimensionar melhor as coisas e os movimentos. A isso decorre aceitar o desafio de entender os diferentes modos de viver que existem e, portanto, torna-se necessário o debate das e entre as variadas cosmopercepções.

No pensamento da nigeriana Oyèrónkẹ Oyěwùmí (2002), a cosmopercepção é uma forma mais inclusiva de conceber o mundo, fissurando a supremacia da visão que nos induz, por exemplo, a olhar o patrimônio a partir dos critérios de arte, história e beleza euro-ocidentalizados ou somente aqueles representativos de uma parte da sociedade brasileira, geralmente política e economicamente hegemônica. Para Oyěwùmí (2002, pp. 2-3), essa supremacia da visão marca como o mundo é percebido no ocidente, ou seja, a cosmovisão ocidental em contraposição a outras cosmopercepções possíveis, imprimindo ao corpo “o alicerce sobre o qual a ordem social é fundada”, pois “o olhar é um convite para diferenciar”, sejam “corpos masculinos, corpos femininos, corpos judaicos, corpos arianos, corpos negros, corpos brancos, corpos ricos, corpos pobres”. E podemos acrescentar, ainda, corpos bichas, corpos indígenas, corpos quilombolas, corpos periféricos, corpos invisíveis.

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