A RESTAURAÇÃO DO PELOURINHO NO CENTRO HISTÓRICO DE SALVADOR, BAHIA, BRASIL. POTENCIALIDADES, LIMITES E DILEMAS DA CONSERVAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS. HISTÓRIA, CULTURA E CIDADE


Resumo: O objetivo deste artigo é analisar alguns aspectos do processo de restauração do Pelourinho, ocorrido entre 1992-1993. Em especial, procura mostrar que a intervenção efetuada pelo governo baiano priorizou o conjunto arquitetônico, em detrimento do social. Os moradores daquele espaço foram excluídos enquanto participantes do processo e considerados inconvenientes para permanecer no local. O questionamento dos antigos moradores ao modo como ocorreu a restauração, é parte intrínseca dessa história.

“O povo aqui é um povo guerreiro, sofrido desde sempre; desde quando os escravos estavam aqui. Quem ficou é que sustentou os imóveis com a própria caloria do corpo, que retirou a umidade do imóvel. Esse povo não é lembrado. Não tem nem mesmo o direito de andar aqui dentro” 
(A.R.. ex-morador do Pelourinho)


1. O ABANDONO

O largo do Pelourinho, situado no centro da cidade de Salvador era, no início do século XIX, o local onde os escravos eram supliciados. Nesse espaço de igrejas majestosas e casarões imponentes, de ruas estreitas, calçadas com pedras e de traçado irregular, moravam senhores de engenho, desembargadores e grandes negociantes (Matoso, 1992). 

As moradias, sobrados de três a cinco andares, em estilo colonial português, foram edificadas num tempo em que todo o serviço de abastecimento de água e de limpeza, como o recolhimento de dejetos, era feito pela escravaria. A extinção da escravidão e as novas formas de organização familiar e de concepção de moradia, com exigências de areação, saneamento básico e arborização, levou os moradores a migrarem para outros bairros, onde havia mais espaço para a administração da residência

O deslocamento populacional ocorreu entre meados e fins do século XIX. Os bairros distantes do centro passaram a ser optativos e atraentes em função da consolidação dos meios de transporte coletivo na cidade (bonde sobre trilhos, bonde elétrico, ônibus, etc.). O centro de Salvador foi gradativamente abandonado pelas classes privilegiadas e seus casarões passaram a ser locados a grupos de renda mais baixa, profissionais liberais, pessoas ligadas ao pequeno comércio. Aos poucos, essa população também foi deixando de morar nesse espaço e não tardou para que aparecessem os sinais de desinteresse na preservação dos imóveis, percebidos em suas fachadas e interiores (Espinheira, 1971: 9).

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ZANIRATO, Silvia Helena. A restauração do Pelourinho no Centro Histórico de Salvador, Bahia, Brasil. Potencialidades, limites e dilemas da conservação de áreas degradadas. História, cultura e cidade. Historia Actual Online, n. 14, p. 35-47, 2007.


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