A FILOLOGIA E O ESTUDO HISTÓRICO DAS LÍNGUAS ROMÂNICAS

 


Repensando o papel da Filologia e do filólogo

Essas questões nos reorientam a voltarmos nossa atenção para uma área lamentavelmente considerada uma atividade “jurássica” para alguns, por estar relacionada à erudição, e para outros uma atividade desenvolvida por aqueles que se agradam apenas do passado e de coisas antigas e empoeiradas, ainda que essas noções atualmente não tenham para nós os mesmos sentidos que tinham em outras épocas, visto que estamos em um tempo histórico marcado pela era digital, em que diversas formas de conhecimento acessíveis se multiplicam na rede.

Seguindo a teia da Filologia, insisto e persisto em refletir sobre essa área do saber muito antiga, e nem por isso esquecida e desnecessária, que, tem por objeto de estudo o texto e, mais propriamente, conforme Auerbach (1972, p. 1), tem por “atividade mais antiga, mais nobre e mais autêntica”, a Edição Crítica de Textos, com ênfase em seu enfoque historicista, culturalista e memorialista (GONÇALVES, 2017).

Atualmente, apesar das tensões teóricas e metodológicas que envolvem outras disciplinas que também reconhecem o texto como objeto de estudo, reconhece-se a Filologia como a ciência do texto, escrito ou oral, considerando-se as diversas formas de produção e transmissão dos textos - manuscritos, datiloscritos, impressos ou digitais - e suas materialidades, inscrições e discursividades, além de sua relação visceral com a cultura e sua vinculação com a língua, a história e o tempo. Vale lembrar que o grande problema, por vezes, em se reconhecer o texto como objeto de estudo da Filologia se dá pela dificuldade de conceituar texto. Segundo Pons Rodríguez (2006, p. 11), deve-se propriamente ao fato de que “el texto es un concepto movedizo: los testemonios reflejan estados varios de la recepción (...) hay una cadena de transmisión que va desde el primer copista o el corrector de imprenta al editor actual (...).”1 Mas mesmo diante dessas questões, assertivamente diversas teóricos e pesquisadores reconhecem o texto como objeto de estudo crítico, cultural, linguúistico e discursivo do filólogo, ressaltando-se também a relevância da recuperação dos textos, com fonte de estudo para a história da língua.

Portanto, é preciso reiterar que, no contexto arqueológico da Filologia, desde as suas origens, na Antiguidade, a atividade filológica não se distanciou da exegese crítica, histórica e cultural do texto. Por outro lado, reconhecemos que noções como filologia, filólogo e texto podem trazer acepções por vezes amplas, a depender da época e do contexto em análise. Historicamente, o conceito de filólogo passou por várias ampliações semânticas e segundo Bassetto (2005), durante vários séculos, por exemplo, o referido conceito esteve ligado à acepção de amizade, filólogo como amigo das palavras, e de sabedoria, o filólogo eclético, indivíduo que possui vasta cultura. Mas mudaram-se historicamente os conceitos de língua, cultura e história e a Filologia acompanhou essas mudanças conceituais, teóricas e epistemológicas e, consequentemente, o filólogo vai se metamorfoseando e incorporando essas mudanças, ainda que sua práxis continue híbrida.

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GONÇALVES, Eliana Correia Brandão. A filologia e o estudo histórico das línguas românicas. In: Anais do XXII Congresso Nacional de Linguística e Filologia. Cadernos do CNLF.


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