A ENTREVISTA COMO INSTRUMENTO PARA INVESTIGAÇÃO EM PESQUISAS QUALITATIVAS NO CAMPO DA LINGUÍSTICA APLICADA

 


É na tentativa de justificar a escolha da entrevista como instrumento estrutural de uma investigação acadêmica particular, que deu origem a minha pesquisa de mestrado (MIGUEL, 2009), que inicio algumas breves considerações sobre o tema. Em primeiro lugar, é conveniente esclarecer que tal escolha não foi meramente casual, mas, ao contrário, partiu de algumas reflexões sobre o conceito de ciência, método e pesquisa científica nas diversas áreas do conhecimento, especificamente no campo da Linguística Aplicada. Observei, inicialmente, que fazer ciência na área de Ciências Humanas tratava-se de um desafio curioso, dada a complexidade e subjetividade do seu principal objeto de estudo. Além disso, observei que a perspectiva verificacionista – pautada em determinados princípios, regras e métodos definidos pela comunidade científica, tida como a mais valorizada instância de produção de conhecimento legítimo – poderia agora ser substituída por uma perspectiva interpretativa – ou interpretativista, nas palavras de Moita Lopes (1994) –, na qual se busca a compreensão, valoriza-se a interpretação e se reconhece a centralidade da linguagem nos processos de objetivação (SÁ, 2001).

Re-significando nossa visão sobre a ciência, a pesquisa passa a ser entendida como uma prática social reflexiva e crítica. Como propõe a autora, 

Já não se busca a neutralidade do pesquisador, antes, transforma-se a subjetividade em um recurso a mais. O rigor passa a ser explicitação da posição do pesquisador (...) A perspectiva interpretativa é fruto da crítica recente à naturalização dos fenômenos sociais, e destaca o entendimento de que conceitos e teorias são fenômenos culturais, socialmente construídos e legitimados. Entende-se o conhecimento não como algo a ser possuído, mas como algo que se constrói coletivamente (SÁ, 2001, p. 40). 

A investigação proposta por mim teve natureza essencialmente qualitativa e interpretativa, já que o objetivo por ela visado não foi o de delinear amostras representativas, mas o de explicitar os critérios de escolha dos participantes envolvidos e o de entender os significados construídos por eles a partir da leitura do contexto sociocultural de suas atividades cotidianas. Esse modo de fazer ciência parece mais adequado para “dar conta do fato de que a linguagem é, ao mesmo tempo, condição para a construção do mundo social e caminho para compreendê-lo” (Moita Lopes, 1994:334).   

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MIGUEL, Fernanda Valim Côrtes. A entrevista como instrumento para investigação em pesquisas qualitativas no campo da linguística aplicada. Revista odisseia, 2010.


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