A LINGUAGEM POÉTICA NA TRADUÇÃO DA ENEIDA DE CARLOS ALBERTO NUNES: UM ESTUDO NA PERSPECTIVA DA TEORIA TRADUTÓRIA DE HAROLDO DE CAMPOS


RESUMO  

Carlos Alberto Nunes (1897-1990) traduziu em 1981 a Eneida de Virgílio forjando um verso hexamétrico que correspondesse ao hexâmetro datílico de Virgílio. O hexâmetro de Nunes é predominantemente datílico com dezesseis sílabas poéticas e icto incidente na 1ª, 4ª, 7ª, 10ª, 13ª e 16ª, resultando em uma sílaba tônica seguida de duas átonas, formando o pé datílico; a 16ª sílaba pode formar o pé sozinha ou seguida de apenas uma sílaba átona, formando um pé troqueu; para variar o ritmo da declamação, o hexâmetro de Nunes pode apresentar as cesuras triemímera, pentemímera e heftemímera. Na opinião do crítico e poeta Haroldo de Campos (1929 – 2003), o trabalho de Nunes é digno de consideração quanto ao verso, mas, no que se refere à linguagem poética, não é um empreendimento voltado para soluções novas. Para Haroldo de Campos, textos criativos, como poesia ou prosa poética, devem ser recriados levando em consideração o plano fônico, a sintaxe, aspectos visuais, ou seja, a dança das palavras. Nesse processo, o tradutor-recriador atua como designer da palavra. Considerando a afirmação de Campos, este trabalho tem como objetivo analisar o processo tradutório de Nunes, observando a forma da expressão e a forma do conteúdo, aspectos importantes para uma tradução criativa. Esta pesquisa justifica-se por abordar a tradução de Nunes pelo viés do processo tradutório. Existem estudos e artigos sobre a tradução da Eneida de Nunes, porém estão voltados para a crítica do hexâmetro vernáculo forjado pelo erudito maranhense. Para a análise do processo tradutório observaremos a elocução da composição de Virgílio no texto de partida para os trechos Aen. 2.3-68 e Aen. 2199-227 em comparação com a forma da expressão e a forma do conteúdo no texto de chegada. Nossa hipótese é que o verso longo do hexâmetro datílico de Nunes não tenha favorecido a recriação da linguagem. O tradutor precisaria sempre inserir mais uma palavra para completar as dezesseis sílabas poéticas e não poderia, com isso, trabalhar a poesia na tradução. Espera-se com esta pesquisa mostrar que Nunes trabalhou a linguagem poética em sua tradução, mas não trabalhou o poema de modo que pudesse ser considerado uma recriação, ou seja, não seguiu a teoria de Campos. 


COLARES, Francisca Tânia Almeida. A linguagem poética na tradução da Eneida de Carlos Alberto Nunes: um estudo na perspectiva da teoria tradutória de Haroldo de Campos. 2018.


https://www.academia.edu/download/60082992/DISSERTACAO_Francisca_Tania_Almeida_Colares_FINAL_BIBLIOTECA20190722-129928-1ikyi94.pdf

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