ASPECTOS LINGUÍSTICOS DA TRADUÇÃO

 A ausência de certos processos gramaticais na língua para a qual se traduz nunca impossibilita uma tradução literal da totalidade da informação conceitual contida no original. [...] Se alguma categoria gramatical não existe numa língua dada, seu sentido pode ser traduzido nessa língua com ajuda de meios lexicais. Ex.: brata (forma dual do russo antigo) > “dois irmãos” (ajuda do adjetivo numeral). É mais difícil traduzir de uma língua carente de uma categoria para outra que a tenha. Ex.: “ela tem irmãos” (port.) > “ela tem dois irmãos?”; “ela tem mais de dois irmãos?” (para língua que tenha a categoria dual) > “ela tem dois ou mais de dois irmãos” (deixar para o ouvinte). O sistema gramatical determina os aspectos de cada experiência que devem ser obrigatoriamente expressos na língua em questão. Ex.: I hired a worker (“Contratei (- ava) um operário / uma operária”). Traduzir para o português demanda informação suplementar: ação completada?, homem ou mulher? Ao ser traduzido para o russo, não informará se era determinado ou indeterminado (um/a ou o/a). [...] Quanto mais rico for o contexto, mais limitada será a perda de informação.



JAKOBSON, Roman. Aspectos linguísticos da tradução. Linguística e comunicação, v. 15, p. 66-72, 1969.



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