LINGUÍSTICA APLICADA E FORMAÇÃO DOCENTE: PERSPECTIVAS, TECNOLOGIAS E INCLUSÃO
APRESENTAÇÃO
É com satisfação que apresentamos e disponibilizamos, de livre acesso, a coletânea Linguística Aplicada e Formação Docente: Perspectivas, Tecnologias e Inclusão, resultado de pesquisas realizadas pelos autores, a partir da disciplina Ensino-Aprendizagem de Línguas: A formação do professor, do Programa de Pós-Graduação em Linguística da Universidade Estadual do Ceará (PosLA/UECE), durante o primeiro semestre de 2022, como um dos produtos do estágio pós-doutoral em Linguística Aplicada do professor Dr. José Raymundo Lins Jr., sob a supervisão da professora Dr.ª Rozania Maria Alves de Moraes.
A proposta apresentada aos alunos e às alunas que cursam o mestrado ou doutorado no programa era de produzir uma coletânea com os artigos desenvolvidos a partir das discussões propostas na disciplina, fazendo com que essas se somem a outras pesquisas recentes sobre a vasta relação entre a Linguística Aplicada e os estudos sobre a formação de professores de línguas. Dessa forma, os textos aqui reunidos utilizam-se de múltiplas abordagens que compõem os três eixos que constituem o subtítulo da obra.
Ressaltamos que a responsabilidade das escolhas teóricometodológicas é inteiramente dos autores dos textos, que, após entregues para a avaliação da disciplina, passaram pela avaliação de pareceristas convidados pelos organizadores e por um conselho editorial. Os três eixos temáticos, embora enfocando perspectivas distintas, objetivavam o mesmo interesse: a atualização dos conteúdos teóricos discutidos durante o semestre com experiências reais na formação inicial e continuada de professores de línguas no Ceará.
O primeiro eixo trata de perspectivas metodológicas para e sobre a formação de professores. O ensaio do professor José 16 Raymundo Lins, intitulado Formação docente reflexiva no Brasil: constatações e sobre-vivências de um professor de línguas, abre as discussões, falando sobre as experiências de um professor formador, no que diz respeito às prescrições e à realização do trabalho docente em um curso de Letras. No final, percebe-se a amplitude que o prefixo e o hífen atribuem a essas vivências, tornando-se, ora uma tarefa árdua, em que atos docentes podem conflitar com o que é normatizado nos documentos reguladores, ora em que estes mesmos atos podem significar um salto para uma formação docente inicial comprometida e engajada. Inclusive, este conflito foi uma das questões da pesquisa pós-doutoral, da qual essa obra é um dos produtos finais. Em seguida, O quadro metodológico da autoconfrontação e as pesquisas sobre formação: ressignificações possíveis, dialogismo e desenvolvimento, texto de Glairton de Paula, Walesca Lima e Rozania Moraes, discute a metodologia da autoconfrontação, à luz da ergonomia francófona e da clínica da atividade, utilizada em pesquisas realizadas por pós-graduandas do PosLA, como recurso para qualificar a formação inicial dos professores de línguas cearenses. O terceiro texto, A sociolinguística nas matrizes curriculares de formação inicial das universidades públicas cearenses, de Leticia Alves, Jéssica Damasceno e Aluiza Araújo, analisa o currículo de cursos de Letras de universidades cearenses, no sentido de identificar a relevância que os estudos sociolinguísticos para a formação inicial de professores de língua portuguesa. O quarto texto, A eficácia das aulas remotas: o que pensam os professores de línguas em formação, de Carla Nascimento, Dayne Almeida e José Lins Jr., propõe uma análise das crenças de professores de língua inglesa em formação quanto à eficácia da aprendizagem em ensino remoto. A pesquisa foi desenvolvida com alunos do último ano do curso de Letras da Universidade do Vale do Acaraú, em Sobral/CE, que passaram a última metade do curso realizando seus estudos – inclusive os estágios supervisionados – de maneira remota. O texto A mobilização das abordagens clínica e ergonômica da atividade na formação inicial de professores de línguas, de Aline Parente, Amanda Santana e Rozania Moraes, fecha o primeiro eixo, retomando a mobilização das abordagens clínica e ergonômica da atividade como recursos pedagógicos e dialógicos na formação inicial de professores de línguas da Universidade Estadual do Ceará. As autoras concluem que, ao vivenciarem a autoconfrontação, os licenciandos têm a oportunidade de refletir sobre situações próprias do métier docente, oportunizando diálogos entre os conhecimentos teóricos adquiridos na graduação e o real da atividade, o que pode contribuir com uma maior autonomia docente.
O segundo eixo, sobre multiletramentos e formação docente, traz discussões relevantes sobre a formação de professores, a partir de pesquisas que atualizam a questão das políticas públicas educacionais cearenses durante o período de pandemia do covid-19. Letramentos digitais e formação de professores da rede municipal de Fortaleza-CE, de Aline Costa, Ana Cecília Costa e Rafaelle Alves, trata das práticas de formação continuada de professores em/para contextos digitais fomentadas pela Secretaria Municipal de Educação (SME) de Fortaleza/CE, enquanto o texto Níveis de letramento digital em professores da rede pública do Ceará: reflexões sobre formação docente e suas relações com o desenvolvimento social, de Jeannie Teixeira, Fábio Oliveira e Letícia dos Santos, analisa os desafios enfrentados pelos professores da rede estadual cearense quanto à utilização da plataforma virtual Google Classroom, contratada, de maneira imediata, para a continuação das atividades da educação básica. Em ambos os estudos, percebe-se que as dificuldades enfrentadas pelos docentes se relacionam com uma formação inicial ou continuada que ainda associa a tecnologia à capacitação técnica e não a práticas de multiletramentos.
Por fim, mas não menos importante, o texto de Kethleen Claudino, Neyara Rebeca Lima e Alexandra Seoane, representa o terceiro eixo, sobre inclusão. Em Audiodescrição em atividades extraclasse: recomendações para a formação de professores mediadores de práticas inclusivas, as autoras discutem a importância e o uso da audiodescrição na formação de professores como recurso mediador de práticas de inclusão em atividades escolares extraclasse, através de uma pesquisa descritiva que apresenta sugestões a serem adotadas pelos docentes para a inclusão de alunos com deficiência visual.
Como verificado desde os títulos dos trabalhos aqui organizados, as discussões dessa disciplina transcenderam a sala de aula e mergulharam no locus profissional dos professores de línguas e extraíram informações deste métier. Assim, essa coletânea justifica-se por duas motivações principais de seus organizadores: efetivar o discurso de que as pesquisas realizadas nas licenciaturas não apenas podem, como devem dialogar com e exercício profissional docente, e, igualmente importante, que as pesquisas realizadas na formação inicial e continuada não devem objetivar apenas um conceito avaliativo, mas sua difusão, pois é no conhecimento, na polêmica – entendida, aqui, como ponto de discordância, e não como disputa – e nas ressignificações dialogadas que elaboram-se o saber e o fazer docentes.
Agradecemos aos autores, pesquisadores em formação, por acreditarem e fazerem parte desse projeto, ao mesmo tempo em que os parabenizamos pelas contribuições compartilhadas entre a categoria. Ao fazê-lo, sobre-vivemos mais um dia como professores, pessoas e cidadãos.
LINS JR, José Raymundo F.; DE MORAES, Rozania Maria Alves. LINGUÍSTICA APLICADA E FORMAÇÃO DOCENTE: PERSPECTIVAS, TECNOLOGIAS E INCLUSÃO.
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