RUMOS DA DIALETOLOGIA PORTUGUESA
A variação espacial ou horizontal — de que nos ocuparemos aqui — processa-se numa gradação que vai desde pequenas alterações no foneticismo e no material léxico, sem prejuízo de uma fácil compreensão, até uma diferenciação mais avançada, que atinge também a morfologia e chega a acarretar dificuldades à comunicação. No primeiro caso temos os falares, e no segundo, os dialetos. Quando as pessoas que se servem de falares distintos entram em contacto percebem apenas que procedem de regiões geográficas diferentes. No caso dos dialetos os embaraços à compreensão deixam escassamente entrever um fundo lingüístico comum, e isso é tudo.
Naturalmente a distinção entre falar e dialeto representa um esforço de classificação dos graus da variabilidade lingüística espacial, não podendo ser entendida em sentido absoluto. Uma série de variáveis pode matizar o material lingüístico de que nos servimos nas diferentes situações, com o que a distinção aqui definida nem de longe esgota o assunto.
Praticamente cada recorte da fala representa uma variação, e por isso Bernard Bloch propôs o termo idioleto para representar a fala de uma pessoa tratando de um assunto, com um mesmo interlocutor, durante certo período de tempo. Esta concepção denuncia a preocupação do lingüista quando se põe a analisar determinado corpus: é justo considerá-lo representativo de toda a língua em questão? Ou será mais prudente restringir as conclusões que pudermos tirar unicamente ao material analisado, evitando generalizações? Haveria uma variante considerada típica de uma dada língua?
DE CASTILHO, Ataliba T. Rumos da dialetologia portuguesa. Alfa: Revista de Linguística, 1972.
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