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Mostrando postagens de novembro, 2024

CATATAU, IMAGEM E TRÂNSITO

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  Saulo de Araújo Lemos   Resumo Em Catatau, Paulo Leminski desenha uma hipotética estadia de René Descartes no Brasil durante o domínio de Maurício de Nassau. Publicado em 1975, o romance apresenta um fluxo textual contínuo, imprevisível e heterogêneo. Descartes, nessa obra, percorre a linguagem rumo ao mundo e rumo a si mesma: poesia. Este trabalho conversa sobre dois destinos possíveis e inalcançados da viagem de Leminski: o Brasil-colônia da era dos descobrimentos, o Brasil contemporâneo ao autor. Tratando de trajetos que só se afirmam como possibilidade, este percurso crítico traz os conceitos de imagem, solidão da obra e fala errante, propostos por Maurice Blanchot em O espaço literário, e defende que os brasis produzidos a partir da tessitura literária do Catatau sejam imagens distanciadas umas das outras, bem como dos tempos e espaços que, segundo o senso comum, as teriam gerado; são uma espécie geminada de signos opacos que se dirigem à queles dois brasis e deles ...

O VOTO FACULTATIVO E O FINANCIAMENTO PÚBLICO DE CAMPANHA ELEITORAL NO BRASIL: CORRUPÇÃO, CIDADANIA E DEMOCRACIA EM DEBATE

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  José Valente Neto Alguns dos acontecimentos históricos mais significativos experimentados pelo mundo ocidental num passado recente dizem respeito aos processos de transição de regimes autoritários para regimes pluripartidários e representativos, verificados principalmente a partir do final da década de 70 e início dos anos 80, em países como Argentina, Espanha e Brasil. Neste último caso, o regime militar aqui instaurado foi responsável por uma verdadeira mutação institucional e por um retrocesso democrático cujos malévolos resultados ainda estamos, em toda a sua inteireza, por reparar. De fato, se observarmos as condicionantes culturais que permeiam o nosso país, treze anos de democracia política são absolutamente insuficientes para desbotar as manchas herdadas do patrimonialismo colonial, do liberal-conservadorismo imperial e do coronelismo e clientelismo republicanos. Não há que se negar, todavia, avanços vividos pelo complexo institucional brasileiro, mormente com a cria...

EDUCAÇÃO PATRIMONIAL EM CONTEXTOS: CARTOGRAFIAS E COSMOPERCEPÇÕES

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Adson Rodrigo S. Pinheiro  Átila B. Tolentino Carmem Zeli de Vargas Gil O escritor quilombola Antônio Bispo (2018, p.4), como tradutor do pensamento do seu povo, diz que os espaços circulares permitem conviver bem com a diversidade, entendendo que “o outro é importante, que a outra é importante. [Assim] a gente sempre compreende a necessidade de existirem as outras pessoas”. Sua reflexão é no intuito de nos mostrar que nosso olhar colonizante e colonizado é linear, portanto limitado a uma única direção. Os espaços circulares, por sua vez, permitem dimensionar melhor as coisas e os movimentos. A isso decorre aceitar o desafio de entender os diferentes modos de viver que existem e, portanto, torna-se necessário o debate das e entre as variadas cosmopercepções. No pensamento da nigeriana Oyèrónkẹ Oyěwùmí (2002), a cosmopercepção é uma forma mais inclusiva de conceber o mundo, fissurando a supremacia da visão que nos induz, por exemplo, a olhar o patrimônio a partir dos critérios de ar...

UM ENCONTRO COM A COSMOPERCEPÇÃO JENIPAPO-KANINDÉ - ENTREVISTA COM A CACIKA IRÊ

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  Adson Rodrigo Silva Pinheiro  Cacika Irê do povo Jenipapo-Kanindé, Juliana Alves6 é uma liderança nas lutas pelo território e pelo direito de existir na diversidade. É parte de um Cacicado de três  mulheres da mesma família: Cacika Pequena7 , sua mãe; a Cacika Jurema, sua irmã mais velha; e ela Irê. Sucessora de Cacika Pequena, assumindo o Cacicado desde 2010.  Atua na organização das mulheres indígenas que vêm, cada vez mais, conquistando espaço na política e à frente de suas aldeias. Em 2014, foi eleita diretora da Escola Indígena Jenipapo-Kanindé, vinculada à Secretaria da Educação do Ceará. Entre suas alunas, está sua mãe, a Cacika Pequena, que frequenta a Educação de Jovens e Adultos (EJA).  Da sua trajetória acadêmica, a entrevistada possui graduação em Licenciatura Intercultural Indígena pela Universidade Federal do Ceará (2016). Além disso, é especialista em Gestão Escolar e Coordenação Pedagógica pela Faculdade Kurios (2016). Atualmente, é Mestranda e...