A PLEBE HETEROGÊNEA DA INDEPENDÊNCIA: ARMAS E REBELDIAS NO CEARÁ (1817-1824)

Resumo




Este artigo visa mostrar como uma plebe heterogênea, composta por povos indígenas, brancos pobres, negros e mestiços, livres e escravos, envolveu-se ativamente nos principais movimentos que marcaram as lutas da independência no Ceará. Observar a participação dessas camadas subalternas de sertanejos nos conflitos armados, por vezes sujeitados a recrutamentos forçados, outras se engajando voluntariamente nas tropas oficiais ou rebeldes, possibilita entender como suas experiências como soldados, fugitivos dos recrutamentos ou desertores, proporcionaram a articulação de causas comuns em nome da liberdade, forjando outros sentidos da independência.

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Uma plebe heterogênea

Era comum, durante as décadas que precederam a independência, que agentes coloniais desqualificassem a maior parte da população do Ceará como composta por pessoas ignorantes e criminosas, uma “gente da pior espécie”. Era como pensava, já em 1787, o ouvidor Manoel de Avelar Barbelo, ao considerar que “metade dos habitantes desta comarca são vadios sem ofício, ou vagabundos por natureza”. Opinião semelhante era sustentada pelo naturalista João da Silva Feijó que, em 1814, se referiu à “diminuta e desfalecida população” do Ceará como sendo “pela maior parte de péssima qualidade”. Quanto ao ouvidor João Antônio Rodrigues de Carvalho, em Memória, datada de 1816, registrou que entre os maiores males do Ceará estavam: a “preguiça, o prejuízo de não servir homem forro, ainda que seja preto, a facilidade de se manter de furto de gados, a frequência dos crimes de morte...”.

Segundo João da Silva Feijó, esse caráter reprovável da população cearense podia ser explicado pela constituição racial de sua maioria: “uns são índios originais do país, entes em si mesmos ineptos para se felicitarem ou para fazerem a felicidade dos outros”, “outros são provenientes destes com os negros, cuja raça constitui o maior número dela, conhecidos com a vil denominação de cabras”, outros ainda “são nascidos dos mesmos índios com os brancos (...), verdadeiros mamelucos”. Em meio a tantos nativos, cabras, mamelucos, os “brancos oriundos de Portugal” constituíam uma parcela minoritária, ainda que privilegiada, da população.


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CÂNDIDO, Tyrone Apollo Pontes. A plebe heterogênea da independência: armas e rebeldias no Ceará (1817-1824). Almanack, p. 194-215, 2018.


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