LUSOECOLOGIAS: COMPLEXIDADE, AGÊNCIA E RESISTÊNCIA MAIS-QUE-HUMANAS NO ANTROPOCENO LUSÓFONO

 


Chamada de comunicações (até 30-11-2022) para o simpósio:

‘Lusoecologias: complexidade, agência e resistência mais-que-humanas no Antropoceno lusófono’ 

Data do simpósio: 30-31 março 2023 

Convidam-se expressões de interesse para participação num simpósio de dois dias, previsto para março de 2023 na Universidade de Oxford, com vista à publicação de uma coleção editada sobre ‘Ecologias Lusófonas’. Pretende-se que este seja o primeiro passo decisivo de um projeto colaborativo de pesquisa que situará os Estudos Ambientais e a Ecocrítica dentro do âmbito dos Estudos Lusófonos e da literatura em geral. 

As crises antropogênicas da mudança climática, do colapso ambiental e da perda de biodiversidade tornam este o momento ideal para uma consideração aprofundada das contribuições únicas oferecidas pelas culturas lusófonas quanto ao enfrentamento de questões ecológicas.  

Nosso objetivo é fomentar discussões sobre como obras em língua portuguesa (textos literários e filosóficos, filmes e televisão, artes visuais, projetos ativistas, entre outros) podem ilustrar complexidades, agências, resistências e materialidades animais, vegetais e mais-que-humanas. Em particular, desejamos promover discussões que incluam todo o mundo lusófono, conectando o Brasil, a África Lusófona, Portugal e os variados espaços lusófonos na Ásia. Também incentivamos perspetivas comparatistas que conectem e contrastem textos, artefatos e espetáculos lusófonos com outras línguas e espaços geográficos. 

O mundo lusófono é rico em conhecimentos sobre o mundo mais-que-humano que merecem a nossa atenção: acompreensão de Fernando Pessoa, na voz de Alberto Caeiro, de que “a natureza é partes sem um todo”; a comunhão com a barata na obra de Clarice Lispector; as encarnações felinas de esperança e memória nos quadros de Tamikuã Txihi; o olhar aviário no cinema de João Pedro Rodrigues; as espectrais presenças caninas na prosa de Pepetela. Inspirando-nos na noção feminista de “re-visão”, elaborada por Adrienne Rich, que concebe o ato de “entrar num texto antigo a partir de uma nova direção crítica” como nada menos do que “um ato de sobrevivência” (2001:11 [tradução nossa]), o nosso simpósio aspira à criação de um método ecológicoequivalente, que permita re-ler textos canônicos do mundo lusófono. 

Este novo foco sobre o mais-que-humano pode nos ajudar a desaprender as presunções antropocêntricas em que estamos mergulhados e a desvendar lições esquecidas sobre ecologia. Ao mesmo tempo, esperamos que os participantes do nosso simpósio possam contribuir com novos textos, projetos e recursos criativos de vertenteecológica que  dialoguem com o mundo lusófono.

Entre outros eixos temáticos, o simpósio ‘Ecologias Lusófonas’ abordará as consequências do imperialismo português e da escravidão – em particular, a repressão e a resistência de cosmovisões animistas de povos originários do Brasil e da África Lusófona, e como esses processos geraram representações, reflexões e narrativas sobre elementos mais-do-que-humanos no mundo lusófono.  Valendo-se de sua conveniente posição geográfica  para legitimar suas ambições imperialistas, Portugal desempenhou um papel decisivo no advento global do plantationoceno. Começando pelas ilhas próximas às costas europeia e africana, os portugueses foram pioneiros no estabelecimento de sistemas de plantações sustentados pelo trabalho forçado, um modelo de crescimento capitalista que seria posteriormente exportado ao ‘Novo Mundo’, e que inspiraria outras potências coloniais, tais como a Espanha, os Países Baixos, a Grã-Bretanha e a França. Recentemente as conexões entre escravidão, colonialismo e degradação ambiental passaram a ser estudadas em profundidade por acadêmicos de países do norte, embora vozes de países do sul venham denunciando o ecocídio como um dos aspectos mais destrutivos da escravidão e do colonialismo há muito tempo. A destruição ambiental predatória foi ativamente impulsionada pela cosmovisão ocidental, que sempre foi e continua sendo extrativista. Malcom Ferdinand descreve esse modelo como uma “ocupação colonial da Terra” (2019: 298 [tradução nossa]),  em que elementos mais-que-humanos são vistos como produtos disponíveis para uso e objetos inanimados, passíveis de serem destruídos, explorados e dominados para satisfazer interesses coloniais e imperiais. 

@s participantes do nosso simpósio poderão considerar como as culturas lusófonas abordam quaisquer imperativos ecológicos, incluindo (entre outros):

  • Re-conceitualização da relação que os seres humanos estabelecem com o mundo mais-que-humano;
  • Desconstrução das jaulas conceituais em que todos os animais, incluindo os humanos, estão confinados; 
  • Rotura das divisões humano/animal, humano/planta e humano/não-humano;
  • Resistência contra a homogeneização, por meio da representação das complexidades mais-que-humanas;
  • Pensamento e sentimento des-antropocêntricos;
  • Investigação da polivocalidade do mundo (por ex. o modo como artistas, pensadores e ativistas escutam a expressividade do mais-que-humano como agente ativo autônomo); 
  • Abordagem dos impactos ecológicos causados pelo imperialismo português;
  • Resgate e compartilhamento das epistemologias, cosmovisões e saberes de povos originários, que oferecem visões e ontologias alternativas da vida. 

As propostas de comunicação, que deverão incluir título e resumo de 250-500 palavras, bem como uma biografia breve de aproximadamente 100 palavras, devem ser encaminhadas para lusoecologies@gmail.com até dia 30 de novembro de 2022. (Também ficamos à disposição para responder a quaisquer dúvidas neste endereço de e-mail). Espera-se que @s participantes do simpósio façam comunicações de 15-20 minutos, em inglês ou português, que poderão ser transformadas em capítulos da coleção editada Lusoecologias. Pedimos o favor de indicar no e-mail se preferem participar online ou de forma presencial.


Organizadores:

Dorothée Boulanger, Leverhulme Early Career Fellow and Junior Research Fellow at Jesus College, University of Oxford (https://www.mod-langs.ox.ac.uk/people/dorothee-boulanger)

Andrzej Stuart-Thompson, DPhil Student at Jesus College, University of Oxford (https://www.mod-langs.ox.ac.uk/people/andrzej-stuart-thompson)

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