CHAMADA PARA PUBLICAÇÃO: REVISTA TEXTO POÉTICO







Estamos divulgando a Chamada: dossiê “Poesia e direitos humanos” –https://textopoetico.emnuvens.com.br/rtp/about/submissions

A reflexão em torno das relações entre poesia e direitos humanos aciona, no contexto atual, três movimentos relevantes para o debate crítico sobre a literatura. Primeiramente, ela remete de modo incontornável aos consagrados estudos de Antonio Candido, desenvolvidos especialmente nos ensaios “A literatura e a formação do homem” e “O direito à literatura”, os quais fundam uma importante tradição analítica no campo intelectual brasileiro. Como se sabe, nessas obras o crítico formula uma argumentação em torno do sentido humanista e do caráter humanizador da literatura, defendendo a democratização do acesso à produção literária em todos os seus níveis, tomando-a como um direito fundamental. O princípio candidiano articula importantes convergências entre ética, estética e cidadania, e seu prestígio em cursos de formação docente segue inabalável, embora se observe, sobretudo nos últimos anos, uma vigorosa revisão crítica de seus parâmetros argumentativos e pressupostos teóricos.

Nessa primeira faceta da discussão proposta neste dossiê, interessa pensar o acesso à literatura – especificamente à poesia, no que ela apresenta de singular enquanto linguagem e prática cultural – como um direito humano básico e, consequentemente, trazer à baila estratégias mobilizadas pela sociedade para a positivação e efetivação desse direito. Abre-se espaço, assim, para o exame de políticas públicas, projetos editoriais, ações educacionais, metodologias de ensino e projetos coletivos, vinculados ou não ao Estado, em prol da formação de leitores, bem como para a publicação e divulgação de poetas.

Um segundo aspecto do debate remete ao lugar que a poesia historicamente assume na luta pela dignidade humana, sendo acionada enquanto espaço simbólico de elaboração identitária, manifestação da revolta, da dor e da tomada de consciência, assumindo o papel de resistência contra a exclusão social e cultural. Através da linguagem poética, indivíduos e grupos denunciam processos de subjugação, respondendo a mecanismos de exploração e ativando formas contra-hegemônicas de sensibilidade e expressão. O enlace entre poesia e direitos humanos, nessa perspectiva, vem, por exemplo, lançando luz nova sobre a produção poética de vozes subalternizadas, seja por relações opressivas de gênero, sexualidade, raça/etnia, classe social, nacionalidade, dentre outras. Do mesmo modo, convém ressaltar que o estudo dessas poéticas coloca em questão a própria pretensão universalista do discurso sobre os direitos humanos no ocidente, evocado sobretudo em sua concepção liberal fundante, contribuindo para revisões, ampliações e críticas ao próprio conceito.

Num terceiro eixo, a articulação entre poesia e direitos humanos está ancorada nos estudos sobre a dimensão testemunhal da literatura, chamando atenção para a presença marcante da poesia na formulação da memória cultural em torno de catástrofes históricas, como guerras, genocídios e ditaduras. A conjugação entre memória, violência e autoritarismo atravessa a produção poética de todos os tempos e nações, com destaque para a modernidade, demandando olhares críticos que repensem a singularidade da linguagem poética tanto na fixação simbólica e mnemônica de eventos-limite – que testam a elasticidade do dizível e acionam formas fragmentadas de expressão – como em uma ética da escrita, interessada em elaborar esteticamente, mas também testemunhalmente, o trauma histórico e pessoal.

O objetivo deste dossiê é, portanto, congregar pesquisas de diferentes perspectivas teóricas, voltadas para a análise de obras poéticas específicas, que busquem efetivar um diálogo com as questões interdisciplinares caras ao campo dos direitos humanos. Pretendemos, igualmente, reunir reflexões teóricas e críticas que reconheçam a possibilidade de fruição e criação poética como um direito em si mesmo, tomando a poesia como discurso potente de subjetivação e invenção de si, mas também de contestação da barbárie e afirmação da dignidade humana.

Organização

Marcelo Ferraz (UFG/CNPq)

Leila Lehnen (Brown)

Prazos para submissão de trabalhos: 30 de maio de 2023

Publicação prevista: setembro de 2023

Comentários