PALEOGRAFIA VERSUS ALFABETIZAÇÃO. REFLEXÕES SOBRE HISTÓRIA SOCIAL DA CULTURA ESCRITA
Liberada das velhas ancoragens que a mantinham apegada ao discurso erudito sob o qual nasceu, a Paleografia se erige a partir dos anos sessenta como um saber indispensável para qualquer elaboração científica sobre a história da cultura escrita. Como afirmara Armando Petrucci, embora seja possível uma Paleografia sem história da cultura escrita, esta não pode ser construída à margem da primeira.
Por esta ótica, a Paleografia já não é somente e simplesmente a ciência que estuda as escrituras antigas, mas uma renovada disciplina que se propõe ao estudo global da história dos usos e práticas da escrita. Portanto, é a história dos signos gráficos, mas também da função e extensão social dos mesmos. É, de igual forma, a história do livro e da leitura, assim como das formas de produção e conservação da «memória do saber» .
Em certo sentido, poderíamos dizer que a Paleografia é uma disciplina cujos métodos e ferramentas resultam necessários para uma compreensão mais enriquecedora e profunda do significado histórico-social da produção escrita, o que Virgílio de Toulouse chamou de a «alma da escritura» . Certamente, sem renunciar ao diálogo científico com outras disciplinas, tão necessário quanto produtivo.
Como consequência, esta reflexão sobre o fazer paleográfico é concebida sem perder de vista o referente metodológico da interdisciplinaridade, ao que expressamente faz alusão Antonio Viñao, quando reflete sobre o presente e futuro da história da alfabetização . Traçaremos um breve percurso pela evolução histórica da disciplina 8 para chegar ao momento em que se discutem com mais consistência as deficiências do método tradicional e se perfilam os novos usos paleográficos, incidindo na função da escritura e nas intrínsecas relações entre esta e a sociedade, aprofundando assim nas ideias antecipadas nos anos trinta pelo húngaro István Hajnal.
GÓMEZ, Antonio Castillo; SÁEZ, Carlos. Paleografia versus Alfabetização. Reflexões sobre História Social da Cultura Escrita. LaborHistórico, v. 2, n. 1, p. 164-187, 2016.
https://revistas.ufrj.br/index.php/lh/article/download/4815/3523
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