DOSSIÊ: ANTROPOFAGIA ÀS AVESSAS: MODERNISMOS E DECOLONIALIDADE

 

Antropofagia às avessas: modernismos e decolonialidade

Em 1922 artistas e intelectuais da elite paulista lançaram o primeiro movimento a ver na assimilação da cultura popular uma ferramenta rica e necessária para o estabelecimento de um caráter nacional brasileiro. No centenário da Semana de Arte Moderna são, cada vez mais, artistas e ativistas das classes populares a tomarem a frente de discussões e movimentos que desvelam a diversidade cultural, étnico-racial, linguística, de identidade de gêneros e de modos de existência e expressão que constituem o Brasil. Enquanto a antropofagia, deglutição de culturas populares por parte de não populares, perde paulatinamente sua primazia, indivíduos e comunidades historicamente marginalizados buscam, sobretudo ao longo dos anos 2000, se apropriar de lugares de poder, de fala e de representatividade que antes lhes eram negados.

O que vislumbram hoje essas vozes para a arte brasileira dos próximos cem anos? Quais as relações possíveis entre o contexto modernista da semana de 1922 e o atual? Quanto de modernidade e de colonialidade existe em 1922, e quanto em 2022? O que se entendia por moderno e o que se entende hoje? Se 1922 resultou em uma proliferação de manifestos e projetos culturais e artísticos em busca de uma suposta identidade nacional e do abandono do eurocentrismo, o que se busca em 2022? Que usos podem ser feitos e o que se pode relacionar à Semana de 22? O que fizemos com a Semana ou a partir da Semana? Se 1922 foi um embate frente a certos padrões estéticos, quais os embates de hoje? Se o Manifesto Antropófago de 1928 afirma “só me interessa o que não é meu'', o que define hoje a alteridade cultural e artística no Brasil? Fora o questionamento estético, que outros questionamentos são percebidos a partir desse contexto?

Pode-se colocar como um dos objetivos modernistas o questionamento do clássico como única fonte da cultura, trazendo uma forma de pensar a arte acadêmica e os seus opostos: a cultura popular tradicional, as manifestações não ocidentais, os processos de criação e improvisação por agentes de diferentes contextos sociais, entre outros. Relacionada a esses objetivos está a conquista do direito à pesquisa em arte para além dos gabinetes e dos cânones: uma pesquisa de diversos pontos de vista, que inclui experimentalismos e incursões em campo, assim como os usos desses elementos pesquisados nos próprios processos de criação modernistas. Essas são questões que podem ajudar a encorajar abordagens múltiplas em torno do modernismo, do que ainda permanece ou do que é atualmente refutado.

Um século depois, revisitar o contexto original da Semana de Arte Moderna e da cultura brasileira nos anos 1920 oportuniza reflexões, comparações e confrontos com diversas outras historicidades e periodizações, sobretudo as atuais. Se àquela época o mundo que se urbanizava, essa mudança traz vários temas sensíveis de uma forma intensa, majoritária e irreversível em diversos contextos, para a cidade, para o campo e para a floresta. Além disso, a urbanização veio acompanhada de uma internacionalização, com discussões sobre o nacional e o estrangeiro, questões que hoje suscitam uma reflexão sobre a colonialidade. Desse modo, percebe-se que, atualmente, há vários instrumentais e abordagens para se pensar o modernismo e a colonialidade de uma forma ampla.

Este dossiê está aberto a propostas de artigos que partam de movimentos e embates provocados direta ou indiretamente pelo modernismo brasileiro, que se refletem, reproduzem ou dissolvem na atualidade. As submissões têm prazo com início em 30 de maio e término em 30 de julho de 2022.

Sugestões de áreas temáticas para o volume, em perspectivas disciplinares ou interdisciplinares, tanto em termos de conteúdo como de linguagens:

  1. modernismo e vanguardas artísticas;

  2. literatura e arte;

  3. poesia visual, oral e cantada;

  4. música, sonoridades e ritmos;

  5. danças e corporalidades;

  6. poéticas afetivas ou políticas;

  7. patriarcado, patriarcalismo e antipatriarcado;

  8. relações étnico-raciais, de gênero e interseccionalidades,

  9. colonialidade e decolonialidade;

  10. a pesquisa modernista, a pesquisa artística e outras metodologias;

  11. antimodernismo e reacionarismo cultural.

Organizadores e editores convidados:

Nina Graeff

Maurício de Carvalho Teixeira

Prazo limite para envio dos originais: 30 de Julho de 2022. 

Submissão dos artigos: As diretrizes para os autores e as normas para submissão e publicação encontram-se na página online da revista, que pode ser acessada pelos links abaixo. Pedimos gentilmente que leiam com atenção as seções antes de submeterem os textos.

https://periodicos.uem.br/ojs/index.php/Dialogos

http://periodicos.uem.br/ojs/index.php/Dialogos/about/submissions#authorGuidelines

Comentários