TESE - LÍNGUA(GEM) E CULTURA: UM ESTUDO ETNOGRÁFICO DOS CAMPOS LEXICAIS DE VAQUEIROS DO CEARÁ
O vaqueiro foi responsável pela
ocupação do território do Ceará e por meio dele foi possível estabelecer no
estado, então Capitania do Siará Grande, a atividade da criação de gado e,
posteriormente, de outros animais. Reconhecendo que o vaqueiro é emblemático no
sertão, ressalta-se, na presente tese, a linguagem desse ator social como
patrimônio cultural e constituinte da cearensidade (PORDEUS JUNIOR, 2003).
Desse modo, a presente pesquisa tem
como objetivo investigar a linguagem do vaqueiro do sertão do Ceará como um
patrimônio linguístico, histórico e cultural, o que justifica o desenvolvimento
de um estudo léxico-cultural, ressaltando a identidade do grupo estudado e
divulgando as problemáticas vivenciadas por esse grupo. A metodologia deste
estudo é de natureza qualitativa e se fixa no âmbito do método etnográfico para
o desenvolvimento de uma observação participante nos municípios de Canindé e
Morada Nova, ambos localizados no estado do Ceará.
O percurso metodológico é
composto por observações in loco, entrevistas semiestruturadas, delimitação do
campo lexical cultura do vaqueiro, elaboração do vocabulário desse campo e
discussão reflexiva sobre as relações léxico-semântico-culturais que estruturam
esse vocabulário. Como apoio para a realização deste estudo, o referencial
teórico é composto por Hoggart (1957), Williams (1960), Thompson (1963), Bauman
(2005) e outros teóricos que dialogam na perspectiva dos estudos culturais; por
Biderman (1981, 2001), Krieger (2006a) e Pontes (2009), no contexto dos estudos
do léxico; por Coseriu (1981) e Bakhtin/Voloshinov (2006), no que se refere à
perspectiva da léxico-semântica e às concepções de realidade linguística na
Linguística e na Linguística Aplicada; e por Coseriu (1981), Faulstich (1980) e
Abbade (2009), quanto à teoria dos campos lexicais. Por fim, chegou-se ao
denominador de 641 lexias distribuídas em 12 macrocampos, que por sua vez foram
subdivididos em 41 microcampos, divididos também em 28 subcampos e,
consequentemente, em 9 subsubcampos.
A partir dessa estrutura, foi
possível organizar onomasiologicamente o vocabulário da cultura do vaqueiro e
discuti-lo como elemento cultural estruturado léxico-semanticamente, a fim de
verificar as relações sígnicas e lexicais inerentes ao âmbito de linguagem dos
vaqueiros canindeenses e moradanovenses. Conclui-se que o presente estudo
contribui para o reconhecimento da cultura vaqueira como uma cultura
nordestina, que traz em seu arcabouço os traços das comunidades rurais do
passado, mas que (re)existem até a contemporaneidade por meio da força de
vontade em resistir, preservar e divulgar a tradição responsável pelo
povoamento da região Nordeste e, principalmente, do estado do Ceará.
Portanto, considera-se que o
campo lexical que estrutura o corpus de pesquisa trazido a lume não está
fechado, mas pode ser ampliado com a continuidade das investigações, estendendo
o estudo a outros municípios e comunidades de vaqueiros do estado do Ceará, ou
até mesmo de outros estados que também têm a cultura vaqueira em sua tradição.
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