Postagens

Mostrando postagens de fevereiro, 2022

O TRAÇO DE GÊNERO NA MORFOSSINTAXE DO PORTUGUÊS

Imagem
  Gênero tem sido considerado “um tema tradicional na linguística” 1  ( Unterbeck; Rissanen 2000 :ix), e  Matasović (2004 :13) chama-o de “a única categoria gramatical que sempre evoca paixão”.  Corbett (1991 :1) afirma que gênero “é a mais enigmática das categorias gramaticais”. Consequentemente, há uma literatura significativa sobre gênero nos estudos sociolinguísticos (cf.:  Lucchesi 2000 ,  2009 ,  Karim 2004 ,  Aguilera; Navarro 2009 ,  Bismarck Lopes 2014 , para o português;  Hellinger; Bußmann 2001 , para uma grande variedade de outras línguas), nos estudos de aquisição e processamento de gênero (cf.:  Franceschina 2005 ,  Correia; Name 2003 ), nos estudos da tipologia dos sistemas de gênero (cf.:  Corbett 1991 ), e nos estudos diacrônicos sobre desenvolvimento e perda dos sistemas de gênero (cf.:  Matasović 2004 ) Entretanto, a literatura sobre os aspectos morfossintáticos de gênero é bem menos extensa. Há incontestavelmente vários estudos sobre a distribuição de gênero nas div

ASPECTOS LINGUÍSTICOS DA TRADUÇÃO

 A ausência de certos processos gramaticais na língua para a qual se traduz nunca impossibilita uma tradução literal da totalidade da informação conceitual contida no original. [...] Se alguma categoria gramatical não existe numa língua dada, seu sentido pode ser traduzido nessa língua com ajuda de meios lexicais. Ex.: brata (forma dual do russo antigo) > “dois irmãos” (ajuda do adjetivo numeral). É mais difícil traduzir de uma língua carente de uma categoria para outra que a tenha. Ex.: “ela tem irmãos” (port.) > “ela tem dois irmãos?”; “ela tem mais de dois irmãos?” (para língua que tenha a categoria dual) > “ela tem dois ou mais de dois irmãos” (deixar para o ouvinte). O sistema gramatical determina os aspectos de cada experiência que devem ser obrigatoriamente expressos na língua em questão. Ex.: I hired a worker (“Contratei (- ava) um operário / uma operária”). Traduzir para o português demanda informação suplementar: ação completada?, homem ou mulher? Ao ser traduzido pa

A WEB SEMÂNTICA E SUAS CONTRIBUIÇÕES PARA A CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO

 INTRODUÇÃO  Surgida no início dos anos 90, a World Wide Web*, ou simplesmente Web, é hoje tão popular e ubíqua, que, não raro, no imaginário dos usuários, confunde-se com a própria e balzaquiana Internet – a infra-estrutura de redes, servidores e canais de comunicação que lhe dá sustentação. Se a Internet surgiu como proposta de um sistema distribuído de comunicação entre computadores para possibilitar a troca de informações na época da Guerra Fria, o projeto da Web, ao implantar de forma magistral o conceito de hipertexto imaginado por Ted Nelson & Douglas Engelbart (1962), buscava oferecer interfaces mais amigáveis e intuitivas para a organização e o acesso ao crescente repositório de documentos que se tornava a Internet. Entretanto, o enorme crescimento – além das expectativas – do alcance e tamanho desta rede, além da ampliação das possibilidades de utilização, fazem com que seja necessária uma nova filosofia, com suas tecnologias subjacentes, além da ampliação da infraestrutu

O CONCEITO E A PRÁTICA DE GESTÃO DE DOCUMENTOS

Desde o desenvolvimento da arquivologia como disciplina, a partir da segunda metade do século XIX, talvez nada a tenha revolucionado tanto quanto concepção teórica e os desdobramentos práticos da gestão ou a administração de documentos estabelecidos após a Segunda Guerra Mundial. Para alguns, trata-se de um conceito emergente, alvo de controvérsias e ainda restrito, como experiência, a poucos países.  Segundo o historiador norte americano Lawrence Burnet, a gestão de documentos é uma operação arquivística "o processo de reduzir seletivamente a proporções manipuláveis a massa de documentos, que é característica da civilização moderna, de forma a conservar permanentemente os que têm um valor cultural futuro sem menosprezar a integridade substantiva da massa documental para efeitos de pesquisa". Por outro lado, alguns concebem a gestão de documentos como a aplicação da administração científica com fins de eficiência e economia, sendo os benefícios para os futuros pesquisadores c

MUSEOLOGIA E PATRIMÓNIO: DOCUMENTOS FUNDAMENTAIS

Imagem
  Resumo O presente número dos Cadernos de Sociomuseologia, reúne um conjunto de documentos sobre museologia e património que se encontram dispersos e muitas vezes em outro idioma que não o português.  Trata-se de documentos produzidos por Instituições/ Organizações de grande credibilidade internacional como a UNESCO, ICOM, ICOMOS e o Conselho da Europa.  A selecção dos textos teve por base servir à reflexão e aprofundamento de ideias do fazer museológico. São textos que se completam e que também traduzem uma visão ampla sobre as questões do património e da sua utilização como recurso para o desenvolvimento.  A UNESCO ( Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura ), com sede em Paris, foi criada em 1945 pela ONU como instituição especializada e tem por objectivos:  “Contribuir para a manutenção da paz e da segurança ao estreitar, pela educação, pela ciência e pela cultura, a colaboração entre as Nações, a fim de assegurar o respeito universal pela justiça, pela lei

GERENCIAMENTO ARQUIVÍSTICO DE DOCUMENTOS ELETRÔNICOS

Imagem
O livro mostra que, tal como os documentos em papel, os documentos eletrônicos gerados no decorrer das atividades das instituições, também se constituem em fontes de prova dessas atividades e, portanto, precisam de um tratamento diferenciado, de um gerenciamento que vai muito além dos recursos oferecidos pelas modernas tecnologias de Gestão Eletrônica de Documentos (GED) e da simples assinatura digital. Esta obra oferece aos profissionais e estudantes de diversas áreas do conhecimento, como administradores, bibliotecários, advogados, analistas de sistemas, cientistas da informação e da computação, uma grande oportunidade de se familiarizarem com conceitos e tendências gerenciais até então não disponíveis em língua portuguesa. Ficou curios@?   Acesse:  https://books.google.com.br/books?hl=pt-BR&lr=&id=3kwaqoZLy8QC&oi=fnd&pg=PA17&dq=+GERENCIAMENTO+ARQUIV%C3%8DSTICO+DE+DOCUMENTOS+ELETR%C3%94NICOS&ots=9i2AfvxOJi&sig=uSeYsSBdo9xF2FKksuJZLLbf2h8  

DECIFRAR TEXTOS PARA COMPREENDER A POLÍTICA: SUBSÍDIOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS PARA ANÁLISE DE DOCUMENTOS

Resumo:  Este artigo apresenta os subsídios teóricos utilizados por nosso grupo de pesquisa para analisar a política com base nos conceitos, no conteúdo e nos discursos presentes nos documentos de política educacional. Os textos são apenas ponto de partida, nossa meta não é fazer análise de discurso, mas compreender a política. Discutimos a hegemonia discursiva, a colonização do vocabulário da reforma, a bricolagem de conceitos visando construir novas lentes para interpretar os textos da reforma; para ler o que dizem, mas também para captar o que “não dizem”. Tomamos os textos como produtos e produtores de orientações políticas. Os sentidos não são dados nos documentos, são produzidos; estão aquém e além das palavras que os compõem. Por isso, focamos não apenas um documento isoladamente, mas suas versões preliminares, textos complementares, assim como o contexto de influência e da produção dos textos, articulando níveis macro e micro de análise. Nessa perspectiva, um documento não é re

DIPLOMÁTICA CONTEMPORÂNEA COMO FUNDAMENTO METODOLÓGICO DA IDENTIFICAÇÃO DE TIPOLOGIA DOCUMENTAL EM ARQUIVOS

Imagem
RODRIGUES, Ana Célia. Diplomática contemporânea como fundamento metodológico da identificação de tipologia documental em arquivos. 2008. Ficou curios@?   Acesse: http://www.referenciasarquivisticas.fci.unb.br:8080/jspui/bitstream/123456789/313/1/tese%20Ana%20Celia%20Rodrigues%202008.pdf

CONVITE | PAPOS INTERDISCIPLINATES - 7º ENCONTRO: INSTRUMENTOS DE CULTURA E MEMÓRIA NO CEARÁ

Imagem
   Ficou curios@? Acesse:  https://youtu.be/HCc_uPro1ws

CONTRIBUIÇÃO PARA UMA ABORDAGEM DIPLOMÁTICA DOS ARQUIVOS PESSOAIS

 Temos diante de nós um impresso de dimensões reduzidas, medindo apenas dez centímetros de altura por sete de largura, com revestimento de papel flexível. A primeira capa da brochura ostenta os elementos identificadores de seu conteúdo: ao alto, o nome do autor [Montenegro Cordeiro]; no centro, o título principal [Heloisianas] acompanhado do secundário [Grinalda de Noiva]; na parte inferior, o local [Rio de Janeiro] e a data da publicação [1884]. A simetria da área de grafismo, onde tais elementos se distribuem em torno de um eixo central, é quebrada apenas por ornamento tipográfico que representa uma palmeira elevada, folhagens rasteiras e borboleta em pleno vôo. O fOllllato, os dizeres da capa e seu tratamento enfático não deixam margem a dúvida: é um livro. O gesto de folheá-lo revela que tem 85 páginas numeradas. Percebe-se também a organização espacial do texto em estrofes, cãnone indicativo da forma mais tradicional do ofício de versejar. Não há dúvida: é um livro de poesia. Uma

PERSPECTIVAS DA FILOLOGIA TEXTUAL

 INTRODUÇÃO A filologia textual é cada vez mais, comprovadamente, um instrumento de grande importância para o estudo lingüístico. Nesse momento é o texto que nos leva aos dados da língua. Desde os primórdios dos estudos da linguagem até finais do século XIX, tem sido o texto o documento dos fatos de língua. Mas, como se tem acentuado recentemente, também para grande parte desses dados é necessário fazer o estabelecimento do texto (BlancheBenveniste, 19981 ): estabelecimento de texto, manuscritos - antigos ou modernos - , de inquéritos gravados, de toda espécie de documento de língua. Desse modo, o método filológico apóia a análise lingüística, ao fornecer com critérios um texto fidedigno. Por outro lado, elementos lingüísticos do texto estabelecido permitem - e têm sempre permitido - estudar a língua aí documentada.  O que seria então esse texto? É preciso, então, ter em mente que a noção de texto, compreendida o mais amplamente como atividade comunicativa, não se limita exclusivamente

LEITURAS PALEOGRÁFICAS DA SÉRIE IRMANDADES DO ARQUIVO DA CÚRIA METROPOLITANA DE SALVADOR: EXPERIÊNCIAS DE ESTÁGIO

  INTRODUÇÃO O objeto desta comunicação é o relato da experiência da aplicação das técnicas de leitura e transcrição paleográficas, sobre a documentação do arquivo da Cúria Metropolitana de Salvador, especialmente da série Irmandades, sob a guarda do Laboratório de Conservação e Restauração Reitor Eugênio de Andrade Veiga, para restauração, preservação, conservação e tratamento arquivístico. O relato das experiências decorrentes desta atividade é mais uma oportunidade para a formação dos profissionais capazes de cumprir o papel de garantir a integridade da documentação e de seu conteúdo histórico. De acordo com a etimologia grega da palavra: paleos significa “antiga” + graphein, que, por sua vez, significa “escrita”. Sendo assim a Paleografia é o estudo da escrita antiga. Inúmeros autores preocuparam-se com a conceituação e utilização desta ciência. Agustín Millares Carlo diz que  Paleografia é a ciência que trata do conhecimento e interpretação das escritas antigas e que estuda as su

PALEOGRAFIA E SUAS INTERFACES.

Imagem
INTRODUÇÃO  O irmão beneditino Paulo Lachenmayer é considerado um dos mais importantes percussores do Design gráfico baiano, tendo desenvolvido enorme produção em heráldica (como o Brasão da Universidade Federal da Bahia), inúmeros trabalhos tipográficos e caligráficos em material ainda para ser pesquisado. No entanto, antes do Paulo, havia o Ernst Lachenmayer, nascido em 2 de janeiro de 1903, numa família católica, em Langenargen, Estado de Baden-Württemberg, Alemanha. Seu pai, Albert Lachenmayer, trabalhava na construção civil e, segundo fontes levantadas por Veiga (2012), provavelmente, era um mestre de obras e estaria na mesma classe de artesãos que os alfaiates, vidreiros, gravadores, calígrafos, carpinteiros, gráficos etc. A mãe, Mathilde Bachmor, percebeu desde cedo a vocação artística do filho Ernst e a estimulava, sendo ele, o terceiro de quatro filhos. Em Langenargen, às margens do lago Constança, na fronteira com a Áustria e a Suíça, a família viveu até 1905 quando se mudam

ANÁLISE DAS CARACTERÍSTICAS PALEOGRÁFICAS DE MANUSCRITOS DO VICE-REI PARA A CÂMARA MUNICIPAL DA ILHA DE SANTA CATARINA (1781 – 1789)

Imagem
  Resumo O presente estudo tem como objetivo analisar aspectos paleográficos de três manuscritos de autoria do Vice-Rei Luis de Vasconcelos e Souza, do período de 1781 a 1789, ressaltando os aspectos gráficos, materiais e complementares, situando os documentos em seu contexto de criação, bem como traçando o perfil da língua portuguesa escrita à época, tendo em vista as particularidades do autor. Os manuscritos informam à Câmara Municipal da Ilha de Santa Catarina do falecimento de membros da família real, ordenando período de luto a todos os seus distritos. Seguem as  Normas Técnicas para Transcrição e Edição de Documentos Manuscritos , bem como o guia para análise paleográfica da obra  Noções de Paleografia e de Diplomática . Por meio da observação crítica dos manuscritos, é feita a descrição das características físicas dos mesmos, com amostragem de casos nos quais ficam explícitas as peculiaridades da escrita dos autores. Conclui que os manuscritos foram escritos por mãos hábeis, ape

LINGUÍSTICA APLICADA: UMA IDENTIDADE CONSTRUÍDA NOS CBLA

 RESUMO: Este artigo objetiva investigar a Linguística Aplicada (LA) como um campo de estudos produtor de conhecimento que tem sofrido muitas transformações ao longo de sua trajetória de busca de uma identidade própria. Tais transformações são recuperadas nas vozes de suas pesquisas ao longo dos anos. Assim, esse estudo analisa o percurso histórico da LA, com base na produção científica apresentada nos Congressos Brasileiros de Linguística Aplicada (CBLA), buscando compreender os significados revelados pelas vozes sociais que constituem o discurso sobre seu fazer científico. A análise da transformação das áreas e subáreas temáticas de estudo nesse recorte temporal apontam para a diversidade e a riqueza dos caminhos desse campo de saber que lhe configuram uma identidade própria e única. PALAVRAS-CHAVE: Linguística Aplicada, identidade, vozes sociais. ARCHANJO, Renata. Linguística Aplicada: uma identidade construída nos CBLA.  Revista brasileira de linguística aplicada , v. 11, p. 609-63