DA APLICAÇÃO DE LINGUÍSTICA À LINGUÍSTICA APLICADA INDISCIPLINAR - PDF

 


Este capítulo tem o objetivo de historicizar alguns dos discursos que construíram e constroem o campo da Linguística Aplicada (la), de modo que, colocando-o em perspectiva, seja possível compreender como essa área de investigação se constitui atualmente. Já parto, portanto, do pressuposto básico de que, em la, da mesma forma que em outras áreas do conhecimento, estamos diante de uma série de discursos que socialmente fizeram essa área operar, de uma forma ou de outra, de acordo com o pensamento intelectual da época, ou seja, o zeitgeist que orientava os pesquisadores. Entendo que os discursos da ciência, como outros, são construções sociais que, em certos momentos, abalizam certas compreensões de produzir conhecimento, excluindo outras. 
Uma área que começa nos anos 1940, com o interesse por desenvolver materiais para o ensino de línguas durante a Segunda Guerra Mundial, vai ter uma Associação Internacional (a aila) constituída em 1964, quando ocorre o primeiro evento internacional de la. Já o primeiro Congresso Internacional de Linguística foi realizado em 1928 (De George e De George, 1928, p. 19), o que, se por um lado demonstra a precocidade da Linguística, por outro mostra como a la é um campo de investigação relativamente novo. O que não quer dizer, entretanto, que temas referentes ao campo de ensino de línguas não tenham sido uma preocupação desde tempos imemoriais. 
O primeiro compêndio contendo teorização sobre o ensino de línguas acredita-se ter sido escrito em 1632, por Jan Amos Comenius, o chamado “Pai da Educação Moderna”, no livro Janua Linguarum Reserata (1632), ou seja, O Portão Destrancado das Línguas. Teria sido Comenius o primeiro linguista aplicado? Desde Comenius, os discursos que construíram essa área de investigação se tornaram bastante complexos. E, como vou mostrar posteriormente, hoje a la se constrói também bem distante do campo de ensino de línguas. 
Penso que Comenius ficaria surpreso se lesse o que se escreve atualmente sobre concepções contemporâneas de la, como, por exemplo, em Moita Lopes (2006), com as quais este capítulo se encerra.


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